18/06/2013

Quem tudo quer, nada tem.



O que aconteceu ontem foi uma das coisas mais bonitas que eu já vi na vida, pois mostra que o Brasil não é um país de gente passiva, que só se manifesta quando o assunto é futebol ou carnaval.
A tomada das ruas feita por mais de duzentas mil pessoas em todo o país reflete claramente o grau de insatisfação da população com inúmeras situações com as quais convivemos cotidianamente.

Todavia, há que observar que o motivo original desde o início do movimento é a redução das tarifas do transporte público e seria importante que as pessoas, por hora, se concentrassem na base desta questão até a resolução do problema.

Sabemos que há uma demanda enorme de coisas que destroem a autoestima do povo brasileiro, porém se não focarmos no motivo principal todo o protesto cairá no vazio das coisas imensuráveis.

Se tornarmos a manifestação um ato de "descontentamento’ ou ‘insatisfação geral’ ela acabará não tendo resultado prático, pois não terá foco, e é isso que o poder público deseja. Eles não querem a discussão sobre o transporte, muito menos que as pessoas possam ter influência prática nos rumos das políticas públicas através de ações diretas.

Lutar contra a corrupção, a PEC 37 ou os gastos exorbitantes e mal utilizados para a Copa do Mundo é tão importante quanto gritar por saúde, educação e segurança públicas mais dignas, contudo é preciso ser objetivo para atingir o primeiro ponto e então ir em busca de todas essas outras coisas.

Na verdade, muita gente não percebe que para se conseguir resultado é preciso causas concretas e propostas coerentes.

Neste momento, além da diminuição do valor das tarifas de ônibus, uma boa causa para se fazer ouvir e conseguir atingir a questão da corrupção é sair às ruas exigindo que todos os pedidos de recursos dos condenados do mensalão sejam negados pelo ministro Joaquim Barbosa.

Outro motivo claro para reclamar por direitos é a votação da PEC 37 - emenda constitucional que limita os poderes de investigação do Ministério Público e que com isso pode se tornar uma forte arma a favor da impunidade - que será votada em plenário no próximo dia 26/06.

Para finalizar, há que se atentar para as reais motivações de adesão aos protestos, pois as manifestações foram e são legítimas, mas é preciso tomar cuidado para que o ato de participar de um evento desta magnitude não esvazie as causas em si.

Não se trata de um show de rock!

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